Nas duas vezes em que estive na Brás, encontrei com o Seu Luís, conhecido vendedor de alho na vizinhança. Morador da Vila Paim, na região oeste de São Leopoldo, Luís César de Braga tem 53 anos e vai semanalmente vender na Brás. Por R$ 1, o cliente leva um saquinho com cinco cabeças de alho gaúcho, adquiridos na Ceasa, em Porto Alegre.
Garantindo que é consumidor do produto que vende, Seu Luís circula pelas ruas da Brás entoando seu harmonioso mantra dos negócios. Mantendo a cadência, vai fidelizando a clientela, que lhe garante a venda de 50 saquinhos a cada manhã que está pela Vila. Mesmo acanhado, Luís solta o gogó e anuncia que "Chegooou o aaaalho, baraaato o aaaalho, um real o aaaalho".
Pois se o alho é fundamental para engordar o orçamento do Seu Luís, também é importante elemento da história da humanidade. Suas origens são imprecisas e nos levam para milhares de anos atrás, já que a visão maometana da expulsão de Satã do Paraíso é composta por alhos brotando da pegada esquerda do Capeta!
Mesmo com data de nascimento indefinida, é unânime que o bom e velho alho vem acompanhando a heróica trajetória das mais antigas civilizações. Antes de chegar na Brás, o alho era mal visto, ou melhor, sua fragrância não encantava, pois até em cultos de deuses gregos era vetada a entrada de pessoas cheirando a alho.
O tempo foi passando e a aristocracia continuava avessa ao coitado do alho. E o clero, fazia do humilde vegetal um indicador de classe social. Toda essa frescura fez o escritor francês Raspail apelidar o injustiçado alho de “cânfora dos pobres”. Puro esnobismo!
Pulverizando o despeito dos poderosos, o alho buscou seu lugar ao sol. Lá no Egito Antigo, servia para compra de escravos e ainda valia como pagamento de imposto por parte dos siberianos. Coligado com a cebola, foi ingrediente essencial para manter a dieta equilibrada dos operários que ergueram as majestosas pirâmides.
Na conservação de cadáveres lá estava o bravo e valente alho, pois consta que até no túmulo de Tutankamon vários dentes de alho foram encontrados. Além de cemitéros pré-históricos, onde o poderoso era arma para espantar espíritos malignos.
Forte contra vampiros e o mau-olhado, o alho já foi personagem de milhares de artigos em revistas científicas sobre suas atribuições medicinais. No Egito, ainda hoje o povo esfrega alho nas portas das casas, afastando os espíritos negativos. Seja defenestrando os espíritos do mal e servindo de escudo para diversas doenças ou dando um gosto especial aos mais variados pratos, o alho hoje é amado por todos e o Seu Luís está em todo sábado de manhã vendendo na Brás deste jeito que você vê no vídeo.
10 de out. de 2008
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1 comentários:
Pela importância que o alho tem no processo sócio-ecolutivo da humanidade, revelada depois deste post de nosso subeditor, soa quase como uma heresia picar o tal tempero para o feijão do meio-dia...
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