1 de nov. de 2008

Uma foto diferente

CENA 1 - Por volta das 10h30 da manhã de sábado, 1 de novembro, um sujeito caminha pelas vielas da Vila Brás com uma pilha de jornais nos braços. Distribui os jornais de casa em casa.
CENA 2 - Após entregar um exemplar a um senhor grisalho que sorvia seu chimarrão sob uma árvore, e receber um respeitosos "obrigado" por isso, o sujeito - camisa e calça escuras; cabelos curtos e óculos de grau no rosto - é abordado por três ou quatro crianças. Pedem jornais.
CENA 3 - O sujeito dá apenas um jornal às crianças - dois meninos e uma menina, de biclicleta -, sob a recomendação que o mesmo seja lido por eles (que idade terão? 9, 10 anos? Já sabem ler?) e levado para a casa dos pais, para que estes também leiam.
CENA 4 - A menina, loira, de tranças; sentada no banco de sua bicicleta - os meninos ao redor - folheia atentamente o jornal. Lá pelas tantas, seus olhos brilham e ela diz: "Olha o profe!" Os meninos: "Deixa a gente ver! Deixa a gente ver!"
CENA 5 - A cena; rápida, não mais que um ou dois minutos, toca profundamente o sujeito de camisa e calças escuras que caminha pelas vielas da Vila Brás em uma manhã de sábado. Talvez porque ele perceba que, por meio do trabalho de seus alunos, a Vila Brás está tendo a oportunidade se ver refletida para além das páginas de polícia. Talvez porque, de tudo o que ele viu e viveu em duas décadas de jornalismo, ele tenha aprendido que bem poucas coisas são tão preciosas aos que fazem jornais quanto o reconhecimento dos que lêem os jornais. E que não há preço que pague isso. Envolto nestes pensamentos, o sujeito que há pouco distribuía jornais capricha na foto que faz dos que com ele estiveram na Brás naquela manhã de sábado. Ele sabe que aquele não é um retrato qualquer.

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