27 de mar. de 2009

Entre o céu e o inferno

Voltando para o ônibus, ao término da primeira visita à Vila Brás, entro em um humilde armazém que já havia chamado minha atenção quando havia chegado. Seu Tonho falava ao telefone e, quando me viu, veio prontamente me atender. Inicialmente, conversamos sobre a vila, e tentei fazer dele mais uma fonte para minha matéria. Não sei se ele entendeu aquele momento como uma oportunidade de se abrir, mas o que ouvi foi um verdadeiro desabafo.

Acompanhado da esposa, Antonio Alves de Arruda veio morar na Brás dezoito anos antes, partindo da cidade de Pato Branco, no Paraná. Depois que suas três filhas saíram de casa, segundo ele, bem casadas e com uma carreira profissional encaminhada, ele decidiu abrir um novo “negócio”.

“Foi cerca de quatro anos atrás”, lembra, “Decidi utilizar parte do meu terreno para abrir um bar, o Boteco do Seu Antonio”. O estabelecimento fez sucesso entre os moradores, criou bastantes amizades ao Seu Tonho e rendeu um sucesso financeiro bastante significativo ao proprietário.

“O problema é sempre a patroa”, reflete o comerciante. Sua esposa, aqui carinhosamente chamada de Dona Fulana, a pedido dele, era daquelas católicas praticantes bastante, digamos, efervescentes. “Ela não ia pra outro lugar ao invés da igreja, e acho que começaram a botar coisas na cabeça dela”, conta, “Ela veio com a idéia de que não podia mais viver comigo porque, como eu tinha o bar, eu induzia as pessoas a ficarem bêbadas”. Ou seja, de que adiantava limpar sua alma perante aos céus, se em casa Dona Fulana vivia com um homem que enviava os vizinhos pro caminho do... Diabo!

Logo, a mulher voltou para o Paraná, não sei ao certo onde, e nem o Seu Tonho, que não faz muita questão de saber. Agora, ele pretende colocar seus imóveis a venda e sair da Vila Brás. Apesar de triste, mas não abatido, Seu Tonho coloca sua estadia na Vila Brás como mais uma experiência de vida, que segue adiante e, tomara, com sucesso.

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