22 de ago. de 2009

O olhar insubordinado

Moçada, se me permitem, separei, por relevante, - mas também como forma de dar minhas boas-vindas a todos -, um trecho do livro A vida que ninguém vê (Arquipélago, 2006), assinado por Eliane Brum a título de posfácio.

O excerto:

"Sempre gostei das histórias pequenas. Das que se repetem, das que pertencem à gente comum. Das desimportantes. O oposto, portando, do jornalismo clássico. Usando o clichê da reportagem, eu sempre me interessei mais pelo cachorro que morde o homem do que pelo homem que morde o cachorro - embora ache que essa seria uma história e tanto. O que esse olhar revela é que o ordinário da vida é extraordinário. E o que a rotina faz com a gente é encobrir a verdade, fazendo com que o milagre da vida é que se torne banal." (p. 187)

Observem que o texto nos fala de uma realidade que usualmente negligenciamos porque tendemos a perder, ao longo da vida, a capacidade de observar o que há de diferente nas coisas comuns.

Também sugere que, para observarmos as coisas ditas comuns, as "desimportâncias" do mundo, basta que mantenhamos nossos olhos abertos.

Por quê?

Entre outros, porque também é nelas, nas coisas comuns, que se revela a singularidade do mundo, tão cara ao jornalismo; e negligenciá-la equivale a deixar de lado, quem sabe, vidas que existem, mas que, no entanto, (quase) ninguém vê.

Tenho certeza que todos aprenderemos muito nos dias que estão por vir.

Um bom semestre a todos.

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