19 de abr. de 2009

Pauta impossível, ainda que desejada

Ao ler o post da colega Daia, constatei que não foi apenas comigo que aconteceu algo interessante, e ao mesmo tempo frustrante, na última visita à Brás. Apesar do que parece e do que viemos publicando, infelizmente, nem tudo é paz e amor na Brás.
Ao realizar, com dois moradores, donos de pequenos comércios na Leopoldo Vazzum, a enquete sobre o que desejavam ver numa próxima edição do enfoque, surpreendi-me com os anseios deles, exigindo mais segurança contra os arrombamentos em suas casas para comprar drogas. Para evitar problemas, expliquei-lhes, de imediato, que infelizmente não seria possível pautarmos o assunto.
Como não pretendo aqui contrariar as ordens, nem complicar as coisas para nenhum dos comerciantes, que obviamente não desejam se identificar, apenas exponho a explicação da vontade de um deles, por ser emblemática.
Uma cabeleireira, bastante chateada, diz que não tem sossego para trabalhar, pois nas próprias palavras dela "É só eu abrir o salão aqui para um sem vergonha ir mexer na minha casa e levar o que a gente conquista suando. Tudo pra comprar crack. E a gente nem pode reclamar. Esses dias até pegaram um guri com uma arma no colégio. Não tenho mais sossego pra deixar meu filho ali enquanto trabalho."
Sei dos riscos óbvios deste tipo de cobertura e, como expus acima, não pretendo escrever nada que passe perto disso, apenas achei interessante dividir com todos, depois de ler o post da Daia.
À propósito, de três questionados, DOIS pediram a mesma cobertura. Apenas um pediu algo que pode ser trabalhado: a falta de esgoto em casas nas ruas mais de baixo (da 24 adiante).

4 comentários:

Daia :) disse...

Eduardo, uma das nossas entrevistadas também falou sobre o consumo de drogas, a violência (citou o caso do menino encontrado com uma arma na escola), os problemas do posto de saúde e da escola. Achei super válido o tue post e também acho que já está mais do que na hora de nos questionarmos sobre o tipo de jornalismo que estamos produzindo. Abc!

Demétrio de Azeredo Soster disse...

Não entendi. Qual "tipo de jornalismo" você se refere? Por que você não propõe esta pauta nas reuniões que realizamos?

Daia :) disse...

Professor, vou listar algumas questões sobre o "tipo de jornalimo" ao qual eu me refiro:
No jornal, não há contraponto de fontes, já que a maioria das matérias têm tamanho reduzido;
A grande maioria das matérias foca nos pontos positivos da Brás, e na prática não é isso que acontece quando entrevistamos os moradores (o post do Eduardo confirma isso);
E eu não levantei esta pauta porque é sobre isso que eu e o Bruno vamos falar na nossa matéria para a próxima edição. Abs!

Demétrio de Azeredo Soster disse...

Em relação às suas angústias, Daia:
1 a ausência de contraponto está relacionada, antes, à vontade do repórter de fazê-lo que a limitações de ordem espacial. Ou seja, é possível, desde que se queira, escrever uma matéria tecnicamente bem resolvida mesmo quando há pouco espaço disponível. Exemplos para isso não faltam.
2 Ênfase no foco positivo da Brás: em jornalismo, não pensamos em "positivo" ou "negativo", mas sim em acontecimentos, que podem ser "positivos" ou "negativos". Por exemplo: uma chaminé caindo na cabeça das pessoas, invasão de terras, meninos cujos irmãos foram mortos a tiros, falta de estrutura de lazer; são pontos positivos? Ou, antes, negativos? Mais do que isso, não são acontecimentos de natureza jornalística? Por suas palavras: se é sobre isso que vocês vão falar, como pode o jornal não dar vazão a este tipo de assunto? Reflita sobre isso, menina.
E vamos conversando.
Abs.